Você já deve ter ouvido falar do Canada Day… mas e do Moving Day (la Fête du déménagement)?
- Escritor Virtual do Lounge
- 1 de jul.
- 4 min de leitura
Enquanto o restante do Canadá comemora o Canada Day com fogos de artifício, desfiles e festas patrióticas, a província do Québec, especialmente a cidade de Montreal, vive um fenômeno único no dia 1º de julho: o chamado Moving Day — ou, em francês, la Fête du déménagement.
A cena é curiosa: caminhões de mudança nas ruas, sofás sendo içados por varandas, colchões amarrados em carros, bicicletas empilhadas em escadas e dezenas de famílias indo de um apartamento para outro — tudo no mesmo dia. Mas como essa tradição começou? E por que ela persiste até hoje? Neste artigo, o Escritor Virtual do Blog do Lounge explica essa peculiaridade cultural que ajuda a contar parte da história do Québec.

Um pouco de história: onde tudo começou?
A origem do Moving Day remonta ao século XVIII, quando o governo da então colônia da Nova França (atual Québec) determinou, por lei, que contratos de aluguel deveriam começar e terminar no dia 1º de maio. A intenção era evitar que famílias fossem forçadas a se mudar durante os meses mais frios do inverno canadense — algo particularmente perigoso na época.
Esse costume permaneceu por mais de dois séculos. Porém, em 1974, o governo provincial decidiu mudar a data para 1º de julho, tanto para facilitar a logística escolar (a maioria das crianças já está de férias nessa época), quanto para dar às famílias um clima mais agradável para realizar mudanças. A medida visava proteger os inquilinos e garantir uma melhor transição entre anos letivos.
Com o tempo, a data se cristalizou como uma tradição urbana — e bastante visível.
Montreal: capital não-oficial do Moving Day
É em Montreal que o Moving Day atinge seu auge. Estima-se que mais de 70 mil pessoas se mudem apenas na cidade durante a primeira semana de julho, concentrando boa parte dessas mudanças no próprio dia 1º. Em bairros centrais, como Plateau Mont-Royal, Mile End e Rosemont, é comum ver prédios com filas de caminhões estacionados, corredores entulhados de móveis e vizinhos improvisando mutirões.
A razão para isso está no mercado imobiliário local: muitos contratos de aluguel ainda seguem o modelo tradicional de 12 meses, começando e terminando no dia 1º de julho. E como muitos moradores são estudantes, imigrantes ou jovens profissionais — com mobilidade frequente —, a rotatividade se mantém alta.

Tradição, caos e solidariedade
O Moving Day é, ao mesmo tempo, uma tradição cultural, um caos urbano temporário e um exercício curioso de solidariedade coletiva. Embora seja um período estressante para quem está se mudando, há também um espírito comunitário que toma conta da cidade:
Amigos e familiares ajudam nas mudanças, muitas vezes em troca de pizza e cerveja.
É comum deixar móveis e eletrodomésticos usados nas calçadas, o que alimenta um sistema informal de reaproveitamento. Quem precisa, leva.
Organizações de ajuda humanitária aproveitam esse momento para recolher doações para famílias em situação vulnerável.
Além disso, o movimento faz parte do calendário da cidade. Empresas de mudança, lojas de móveis usados e até agências de aluguel se preparam meses antes para a alta demanda.
Uma data que gera debate
Apesar do ar quase folclórico, o Moving Day também levanta críticas e questionamentos. Alguns apontam que a prática centralizada em uma única data prejudica famílias de baixa renda, que têm mais dificuldade para encontrar moradias acessíveis ou contratar ajuda profissional durante esse período de grande procura.
Há também problemas logísticos urbanos: o trânsito fica complicado, há acúmulo de lixo e entulho nas ruas, e os serviços públicos precisam fazer malabarismos para dar conta da demanda.
Nos últimos anos, debates sobre moradia acessível, gentrificação e deslocamento forçado têm feito com que algumas pessoas questionem o futuro dessa tradição. Ainda assim, para muitos québécois, o Moving Day continua sendo parte do DNA cultural da província.
O contraste: Canada Day X Moving Day
É impossível ignorar o contraste entre o espírito festivo do Canada Day e a realidade prática do Moving Day no Québec. Enquanto o país inteiro celebra seu "aniversário", muitos moradores da província estão carregando caixas, limpando apartamentos ou tentando encontrar um novo lar. Para alguns, isso representa uma forma de distanciamento simbólico em relação ao projeto nacional canadense.
De fato, o sentimento de identidade única do Québec — com sua língua, cultura e história distintas — é muitas vezes reforçado por pequenas práticas como essa. O Moving Day pode parecer trivial, mas carrega em si traços da relação complexa entre o Québec e o restante do Canadá.

Uma experiência para quem vive (ou visita) o Québec
Se você estiver em Montreal no início de julho, prepare-se para testemunhar um fenômeno inusitado. Talvez não veja fogos de artifício nem shows patrióticos, mas certamente verá uma cidade inteira em movimento — literalmente.
Para os viajantes curiosos, é uma excelente oportunidade para observar como aspectos culturais e históricos moldam o cotidiano de uma sociedade, até mesmo na forma como se mudam de casa. Para quem vive ali, o Moving Day pode ser sinônimo de stress, mas também de renovação.
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Texto produzido com apoio do Escritor Virtual do Blog do Lounge — inteligência artificial aplicada à comunicação leve, curiosa e inteligente sobre temas culturais, educacionais e internacionais.
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